quinta-feira, junho 26, 2008

Naqueles dias, seguintes à nossa viagem, vivi emoções muito conturbadas e confusas. A tal certeza de mudança, no fundo, atormentava-me constantemente. Eu queria, mas não queria. Passadas algumas semanas partiste de férias e eu ali fiquei, sem poder contactar-te. Refugiei-me na poesia.
Há poucos dias atrás consegui recuperar esses versos, que chamei de "Delírios", (o que no fundo diz tudo sobre o meu estado de espírito nessa altura), de um portátil que já "morreu" há uns anos.

Deixo-te aqui dois deles:


Ausência


Odeio esta espera!
Os segundos passam,
Os minutos chegam,
Passam.
Juntam-se as horas,
Somam-se os dias.
E tu não chegas.

Odeio esta espera!
Quero voar em liberdade
Expressar aquilo que sinto.
Gritar, soltar os sentimentos.
Enredar-me no teu corpo,
Beber da tua seiva,
Sentir o teu ardor.
Mas tu não chegas.

Odeio esta espera!
Quero aquele momento
Em que me vou entregar,
Em que te vou ter,
Em que nos vamos fundir.
E tu? Tu não chegas.

Chegaste, enfim!
E eu parti,
Na esperança de sentir
De novo a tua ausência.
De voltar a sentir a ansiedade
Que me atormentava o peito,
E me dava alento para continuar,
À espera.



Apaga-te


Quem sou eu?
Já não me reconheço.
Apagou-se a linha que percorria,
Não consigo traçar outra tão direita, tão certa, tão linear.
Olho-me no espelho e não vejo nada.
Somente um quadro incerto,
Talvez naif. Sim! Um quadro naif.
Ingénua!

Acorda-me! Faz-me regressar deste pesadelo.
Tu, quadro impressionista que me ofusca
Com tamanha luz sedutora, retrato do que é real.
Tu sabes o que queres, eu não sei nada.

Já não me reconheço.
Sinto-me vulgar, ingénua, infantil, pueril.
Os sonhos que acalentava outrora desapareceram,
E não se pode viver sem sonhar.

Acorda-me! Sê duro, sê cruel, mas acorda-me!
Porque não se pode viver só da sedução.
Deixa-me regressar àquela linha, àqueles sonhos, àquela vida.
Não me enleies mais nessa luz que me enfeitiça.

Apaga-te!