(A Praça)
Sentei-me, abrigado, sob a estátua de D. Gualdim. A Praça estava deserta. Só a noite, calma, quente, só as pedras dos séculos. As luzes que lhes emprestam os brilhos da antiguidade. Que realçam a patine dos tempos. Um templário, nove séculos depois de morto, ainda ajuda um profano a evadir-se. Antes, andei pelas ruas, pela judiaria, pela sinagoga, ruas estreitas, desertas, expressivas, mal iluminadas, silenciosas. Ruas que têm hoje os teus olhos, o teu sorriso, o teu espírito. Pedras que ganharam nova vida. Fui, como que despedir-me, abruptamente, inesperadamente, indesejavelmente. Subitamente, dos confins do presente, uma horda de turistas italianos estragou o magnífico e imponente silêncio da Praça. Lá decidi então enfrentar a noite neste quarto onde agora estou. Não haviam de ser uns prosaicos italianos que haviam de estragar a parte boa da tua presença em mim naquela hora singela.
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