(Pode voar-se em qualquer lado)
Havia pouca gente. A maior parte das pessoas já deve ter feito as compras necessárias ao reabastecimento familiar depois das férias. Entre manteigas, banhas e margarinas, o telemóvel deu sinal. Era de sms. Absorto na metafísica dos lacticínios, embalado pela fome que já apertava. Confortado nos quase néons a anunciar chocolates, farinácios e bebidas, pensei despachar as minudências alimentares e depois ver a mensagem. Mas algo me puxou para o aparelho já posto em sossego. Pousei a manteiga irlandesa que depois decidi experimentar. Pousei o cesto, que hoje era dia de rapidez e frugalidade. Finalmente, carreguei no botão. "Meu amor lindo, amanhã apartir das onze sou toda tua". Mudaram as cores. Deixei de saber onde estava a tal manteiga. Acho que dei um encontrão num cesto que passava, desinteressante, irresponsável, mediocremente distraído. O cesto, claro. Respondi, então: "Aí estarei. Sou sempre teu". Sou.
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