domingo, janeiro 14, 2007


(Silêncios)

O fim da tarde de domingo é o tempo mais depressivo que conheço do calendário semanal. Tudo parece decadente. Cheira a fim de festa. Nem que seja a festa de um fim de semana único, ou calmo, ou preenchido, ou alegre, ou triste, ou apenas assim-assim. Hoje não consigo sentir isso. Sim, acho estranho não estar contigo. A falta da tua voz, do teu olhar, do toque da tua pele na minha. Devia sentir-me como sinto em todos os fins de tarde de domingo. A pastelaria estava quase vazia e os empregados reduzidos a metade do habitual quando fui beber o último café do dia. Mas não, não consigo. Porque, meu amor, este fim de semana foi o nosso primeiro fim de semana e foi perfeito. Sem sombras. Com liberdade íntegra. Num local absolutamente histórico e paisagisticamente indescritível de tão belo. Havia também um silêncio. E este silêncio foi muito importante. Permitiu que nos ouvíssemos melhor. Pudemos olhar as estrelas no céu miraculosamente nítido, uma silhueta imponente num alto vigiando-nos cumplicemente como que sorrindo da nossa felicidade. O silêncio permitiu que o nosso amor sobressaísse, se mostrasse, entrasse pelos nossos olhos dentro, pelos nossos corpos dentro. Não, não consigo acompanhar o clima depressivo dos fins de tarde de domingo. O meu fim de semana foi demasiado poderoso, como tu dizias, para que ceda à força do espírito do calendário destas horas que antecedem uma nova semana.