segunda-feira, dezembro 31, 2007

(Coração de ouro)

Talvez a esta hora já durmas, cansada como deves ter ficado da festinha. Eu não. Vejo um filme na TVI, enquanto saboreio o silêncio da noite em que pareço estar só, eu e a minha respiração. Fumo um cigarro enquanto escrevo, percebendo como é fácil perdermos a noção do valor da liberdade. Estou sempre contigo na cabeça e no meu coração e penso, penso, penso. Como já sabes, nesta altura do ano eu penso muito. Calo-me para ouvir o que têm a dizer os silêncios sobre mim. Páro nas ruas repletas de folhas caídas para que elas me vejam e me digam como prosseguir. Olho as ruas semi-desertas e escuto o que as correntes de ar frio têm a comunicar-me. Coisas talvez demasiado metafísicas, mas é assim todos os anos. Não sei explicar a razão por que todas as coisas me parecem diferentes nesta altura. As cores, o ar, o céu. Também creio que já te disse que costumo sofrer muito de introspecção aguda nestes tempos estranhos, em que algo parece mudar, sendo que tudo muda quando tem de mudar e nada muda nesta altura. Mas algo mudou entretanto. Nunca escrevi a ninguém sobre isto e a minha carapaça rechaça o tema para o exterior com um seco "detesto a passagem de ano". Sim detesto, mas não lhe sou indiferente e isso irrita-me. Agora escrevo e converso mesmo contigo a dormir na cama onde vivemos entregues apenas um ao outro. Agora hás tu. E hoje, havendo-te, é muito melhor pensar, pensar, pensar, como sempre me doeu quando não havias.