sábado, janeiro 06, 2007


Por vezes penso que me conheço mal. Creio padecer de uma patologia obsessiva. Que me leva a mover montanhas para alcançar o que quero no momento. Que me conduz a uma espécie de vertigem de secundarizar tudo em função apenas de mim e dos meus objectivos imediatos. O que pode implicar consequências nas minhas relações com os outros, mesmo sabendo eu que esse é mal meu. Nos que privilegio quando não me correspondem, nos preteridos quando o sentem. E quando eu embato nessa realidade de descompensação sucede-me um estranho desamparo, uma gélida sensação. Ninguém vive assim. Ninguém consegue viver equilibradamente assim. A dúvida é se sou mesmo um desequilibrado.
Compreensivelmente a vida faz-se de múltiplas relações e compromissos sociais. O problema é que eu já não tenho nenhum. Não me sinto preso a nenhum. Mas a verdade também é que já não consigo pensar que tenho tempo para tudo. Já tive. Agora o que me dilacera é saber que já não poderei fazer o que deixei de fazer. Apenas poderei fazer o vier a poder fazer. Já não o que teria podido fazer hoje, ontem, antes de ontem. O modo como olhamos e nos relacionamos com o tempo muda. Provavelmente já vivi mais de metade da minha vida. Isso muda tudo? O problema está mesmo em mim. Sendo por isso injusto fazer pagar alguém por defeito meu.