segunda-feira, abril 09, 2007

(Arco-íris)

Ontem tive uma ideia. Criar uma ilha de amor hoje, dia de trabalho e de normalidade degradante, com o regresso dos telemóveis, dos recados, do trabalho. Saí de manhã. Estava Sol. O dia prometia ser outra celebração. Foi. À margem do mundo indiscreto. Horas invisíveis, devoradoras da própria noção de tempo, que parecem passas de ilusionismo a brincar com a necessidade de satisfazermos o nosso desejo. Tempo que voa, como se fosse um TGV do amor. Fatal, a partida. O Sol deu lugar à chuva. Em frente ao café duas raparigas com cerca de vinte anos batiam-se e insultavam-se por causa de umas chaves de um carro, debalde apartadas por um rapaz da mesma idade, mas sem autoridade. Tive de me vir embora, apenas porque tinha de me vir embora. Continuava a chover. Enganei-me na saída e rumei ao contrário do que devia na auto-estrada. O corpo estava ali, mas a cabeça ficara contigo. A chuva continuava a lavar-me metodicamente o carro. Mas não me interessava. Uma calma estranha apoderou-se de mim. O teu cheiro viajava comigo e era fragância inebriante e entorpecedora. Sucedia-se a paisagem que já vira mil vezes, mas hoje, única, rara, nova, inspirada. Após uma curva, um arco-íris enorme desvenda-se dos montes mais próximos. Tinha chegado, enfim, a cheirar a ti e ao meu insaciável desejo de te penetrar, de te beijar, de te olhar e de saciar o meu amor por ti.