sexta-feira, abril 20, 2007

Autobiografia na terceira pessoa
Ele ia ter um dia vertiginoso, que começou mal. Regado a chuva torrencial, que varrera o simulacro enganador de Verão antecipado. A troca das estações valera-lhe, aliás, uma poderosa constipação. Mas o mundo não pára e ele não parou. Saiu, meteu-se no carro e, um a um, foi resolvendo todos os assuntos que o separavam da noite. Falou várias vezes com a namorada, o que sempre lhe aliviou o peso das vertigens laborais. Interrompidos por acasos, salpicados de sms's arrebatados. Até que no ocaso do dia, o Sol já deitado, brilhou. Veio a boa nova. Ele sempre admirara a tranquilidade com que ela lhe dava as notícias que os empolgavam. Antes do esperado, iam finalmente poder amar-se totalmente, sem intermediários nem distâncias. A não ser a do bafo da respiração directa na respiração um do outro. Num ápice, tudo pareceu mudar. O que era difícil, facilitou-se, o que faltava ainda fazer, resolveu-se. O amor não move montanhas, mas muda as cores da vida sem a vida precisar de deixar de ser quem é.