sábado, dezembro 02, 2006


Vôo de pássaro.

Ontem levantei-me cedo. Queria dar tempo para acordar por dentro. O céu estava azul, ligeiramente alcatifado de uma nublagem suave. A incerteza sobre se os teus planos tinham conseguido concretizar-se, inquietava-me. Na verdade, nós só somos uma certeza quando chegamos ao pé um do outro e não quando planeamos ir. Uma campainhada precoce sobressaltou-me. Achava que me telefonarias pelo caminho e ainda não o tinhas feito. Mas admitia uma entrada de rompante. Nem cheguei a perceber quem era.
Só quando telefonaste acalmei. Aí, tive a certeza que queria. Fiz então os últimos preparativos para te receber como projectara. Escolhi a música. Ultimei os presentes que metodicamente tinha coleccionado para o primeiro momento possível. Ia, finalmente, ser hoje. Todas as ansiedades por que passei nas últimas semanas iam ser recompensadas. Cheguei a pensar que nem me importaria de uma abstinência sexual conjuntural, só para ter um momento de liberdade contigo. Mesmo sabendo que nós não conseguimos alcançar essa abstinência senão nos intervalos dos nossos cansaços.
Chegaste. Entraste. E foi inevitável. A química sobrepôs-se às condições, como quase sempre sucedeu antes. Ela invade-nos sem autorização e toma conta dos nossos corpos. E aí, toda a tua pele é para mim uma erogenia irresistível. Erram todos os que dizem que quando o tempo passa depressa é sinal de que se está bem. Bem mesmo, está-se quando não se dá por o tempo passar. Quando nem sequer sabemos se ele está a passar depresssa ou devagar. Foi o que nos aconteceu, com um delicioso recheio de vento na cara e liberdade a céu aberto.
Hoje voámos outra vez. E reincidimos. E, depois, regressou a chuva. Os elementos detestam que nos separemos.
Amo-te.